Acordou no escuro. Apenas o retângulo da porta fechada se destacava. Voltou a fechara os olhos e a imagem da enfermeira apareceu na sua frente. Não estava de cabelos presos. Eles estavam soltos, ondulados, desalinhados. Usava um vestido azul, simples, que descia reto até os joelhos e era abotoado na frente. Não tinha nada do espalhafato dos jovens daqueles tempos esquisitos. Nada de estampas, calça jeans. Uma moça de família. Ela chorava e repetia "meu irmão", "meu irmão" e então desapareceu de novo no escuro meio avermelhado das pálpebras fechadas do homem. Ele voltou a dormir o sono químico do remédio, o sono profundo de um corredor longo em que podia ouvir portas de ferro se fechando e gritos. Eram gritos distantes, abafados, como se alguém estivesse sendo sufocado. Ele andava e os gritos pareciam mais próximos, como se fossem sussurrados em seus ouvidos. Vinham cada vez mais perto, até que pareceram entrar na sua cabeça e ficaram mais e mais abafados e, por fim, viraram uma tosse descontrolada.