Mais um pouco e o cão estaria colado às saliências e buracos, naquele seu laborioso rastejar. O avanço era corrupto: lembrava o movimento traiçoeiro de uma cobra que imobiliza a presa pelo medo que lhe inspira. Imobilizado agora junto à moita, com a cabeça tesa no umbral, o perdigueiro parecia um cão de louça ou então talhado em pedra ou quem sabe feito em forma de cimento - e Pedro teve a louca impressão de que sua boca não tardaria a esguichar um jato d'água, como da boca de uma escultura. O cão não voltou a cabeça, não suplicou nem avisou com os olhos. Se deixou ficar, teso e reteso, empalhado, a cauda erguida qual fio grosso de arame que poderia gemer surdamente, se dedilhado.