"Lourdes está sentada num dos bancos da praça da Matriz, Serra Gaúcho. A senhora, séria, reconhece o apelido como se fosse de batismo; parece que o tapa-olho, preto como o de um pirata de fábula, a cara fechada, de raras expressões e nenhum sorriso e a perda de um olho de forma trágica rendem uma aura de valentia e o espaço suficiente para ser respeitada como uma sobrevivente, quiçá temida. Sapiência? Quase como um bluesman da Louisiana, a sanfoneira deixou o tom maior, infantil e inócuo, para emocionar melodias em tom menor, a cor e a textura do idioma do coração. Instrumentaliza um forró em ré menor, mas é um blues, um lamento, sertanejo, sincronicamente ligado aos cânticos do banzo, da melancolia dos escravos, de qualquer tempo, raça e sofrimento."